SOS ARTE PT teme desconsideração dos artistas visuais

 COMUNICADO À IMPRENSA 

 

O atual contexto de crise trouxe à luz do dia dificuldades especialmente sentidas no setor das artes visuais. Apesar de algumas medidas avulsas, por parte do Estado e de algumas instituições culturais, é visível o impacto extremamente negativo causado pela emergência sanitária provocada pela Covid-19 entre os autores de arte contemporânea e em geral no ecossistema cultural, social e económico gerado pela sua simples existência e atividade: escolas de arte, museus, centros de arte, fundações, exposições, espaços de arte geridos por artistas, galerias, feiras de arte, etc. Os artistas são o coração do mundo das artes. Se este falhar, tudo o resto colapsa sucessivamente neste importante mundo cultural.

Foi um impulso comum de sobrevivência e resposta que nos fez lançar espontaneamente, há um ano, o grito SOS ARTE PT! A adesão da comunidade das artes visuais foi imediata e muito expressiva: artistas, professores, galeristas e curadores aderiram à necessidade de gerarmos uma resposta coletiva à emergência social e cultural que a todos afeta.

Percebeu-se então que nas artes visuais, os artistas são menos organizados que os demais criadores e trabalhadores do setor cultural, raramente manifestando a sua consciência de comunidade com identidade própria, e sobretudo as suas exigências, naturais em qualquer grupo profissional. São também os mais subvalorizados pelas instituições públicas e privadas deste país.

Começámos como nos foi possível. Mobilizámos energias, ideias e projetos, apesar das restrições que atingiram praticamente toda a sociedade. A exposição Sem Limites, que teve lugar online e em espaço físico (Fórum da Maia), daria lugar ao maior acervo de obras de arte contemporânea reunidas em resposta à pandemia: mais de 300 obras de 118 artistas residentes em Portugal. Sem preconceitos críticos fizemos uma convocatória aberta a todos os artistas fundadores e aderentes do movimento SOS ARTE PT, que em junho de 2020 contava com 630 pessoas. Com a mesma honestidade democrática foram realizadas cinco curadorias online (rotativas), ao longo de quatro meses, sobre o acervo entretanto reunido. Lográmos, assim, uma exposição única na génese e no critério, que foi capaz de demolir barreiras profissionais e sociais. A partilha social ultrapassa todos os obstáculos.

Hoje, com quase uma centena de associados, fortemente comprometidos com esta causa, congratulamo-nos com a constituição formal da associação SOS ARTE PT no passado dia 20 de outubro de 2020 e, mais recentemente, com a realização da sua Assembleia Geral Constitutiva, no dia 12 de fevereiro de 2021.

SOS ARTE PT- Associação Portuguesa de Apoio aos Artistas Visuais em Tempos de Crise é uma associação de profissionais liberais: pintores, escultores e outros artistas plásticos, bem como artistas conceptuais e multidisciplinares, nomeadamente aqueles que se dedicam às tecnologias da fotografia, cinema e vídeo, às novas tecnologias computacionais e plataformas digitais, aos binómios arte-ciência, arte-ecologia, arte-sociedade, arte-política e ainda às novas agendas culturais nos domínios da igualdade, sexualidade, pós-colonialismo e ambiente.

A composição da Direção, maioritariamente formada por artistas, possibilita uma ação descentralizada, com amplitude nacional e internacional. SOS ARTE PT é descentralizada sem ser dispersa. O nosso objetivo é chegar a todos os artistas: internacionais residentes em Portugal, portugueses espalhados por Portugal e pelo mundo, unindo-os numa causa comum: defender profissional e socialmente a classe dos artistas visuais em Portugal.

Nas nossas intervenções online, contamos com um público regular de 1800 pessoas, e mais de 3000 seguidores nas nossas redes sociais. 


Ações em curso:

Após a tomada de posse dos corpos sociais, decidimos entrar em contacto, em primeiro lugar, com a Presidência da República, o Ministério da Cultura, e a Câmara Municipal de Lisboa, a quem requeremos audiências. Da mesma forma e do mesmo modo manifestámos a nossa disponibilidade para o diálogo, sempre que necessário, junto da Presidência da Assembleia da República, e dos vários grupos parlamentares, da Presidência do Conselho de Ministros, e da Câmara Municipal de Mafra, município onde a associação tem a sua sede. Queremos alargar os nossos contatos a outros municípios e instituições culturais diversas.

Além da resposta que obtivemos do Grupo Parlamentar do Partido Comunista Português, alegramo-nos com a resposta do Senhor Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Dr. Fernando de Medina, que prontamente diligenciou uma reunião entre a SOS Arte PT e a Senhora Vereadora da Cultura, Dra. Catarina Vaz Pinto, que teve lugar ontem dia 10 de março, de manhã.

Fomos calorosamente recebidos nesta reunião. Deste diálogo franco e cooperativo registámos a convergência de intenções com vista, por um lado, ao rápido desenvolvimento da Associação e, por outro, ao estabelecimento de sinergias entre ambas as instituições, com vista à disseminação das ações e apoios da Câmara Municipal de Lisboa aos artistas visuais que operam na cidade, mas também à defesa do artista visual como um dos atores fundamentais do tecido cultural e social do país.


Questões urgentes:

Lamentamos o facto de não termos recebido, até ao momento, qualquer resposta ao nosso pedido de audiência, por parte da Senhora Ministra da Cultura, Dra. Graça da Fonseca.

Tanto quanto nos foi dado saber, pela comunicação social, estará para breve a apresentação, por parte da tutela, de um “estatuto do artista”, no sentido de contribuir para o encontro de soluções para os problemas que afetam este setor institucionalmente subvalorizado.

A associação SOS ARTE PT teme que os direitos dos artistas visuais sejam, uma vez mais, desconsiderados por parte do Governo e do Ministério da Cultura. Por isso reforça o seu empenho em ser parte das soluções que urge encontrar e desenvolver sem demora. A crise económica, social e cultural está muito longe do fim, e tende mesmo a agravar-se nos próximos anos. 

Atividades em curso e desenvolvimento:

“Conversas à quinta” – vertente internacional da SOS Arte PT, através de conversas online que dão a conhecer 'project-spaces', curadores e artistas;

“A Mão” – revista online que destaca as relações entre arte e comunidade; c/ lançamento previsto para breve;

“O2” – exposição em espaços físico e online, com atribuição de um prémio a decidir por júri lusófono internacional;

“Eternal Forest” – projecto ambiental (no Parque de Monsanto, Lisboa)

Bolsa de Ateliers – estúdios de curta duração

Fundo SOS Arte PT – apoiar artistas com necessidades extremas.

“Gabinete Jurídico” – formulação de um “Manual de Boas Práticas” de apoio ao artista visual.

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MARGARIDA SARDINHA

Presidente da Direção

Lisboa, 10 de março, 2021

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